Ser ou não ser semelhante a criança? Eis a questão!

Texto bíblico: Mc 10: 14, 15

Escrito por: Rogério Jardim

A célebre frase "Ser ou não ser? Eis a questão!" até hoje é usada como um fundo filosófico profundo. Logo somos remetidos a pensar no dramaturgo e poeta inglês William Sheakespeare, que tornou-a conhecida quando a inseriu na tragédia Hamlet, tornando-se a frase mais famosa da literatura mundial não somente em sua época, mas até hoje, causando influência na arte contemporânea com sua poesia. Mas a questão aqui não é tratar da poesia de Sheakespeare, e sim analisar palavras ditas por Jesus que acabam por causar, em nós cristãos, o mesmo questionamento inserido na obra do poeta inglês. No nosso caso a questão é "Ser ou não ser, semelhante a criança?".


O evangelista Marcos expõe o que Jesus falou num determinado momento de seu ministério, quando disse que todo aquele que quisesse entrar no reino de Deus teria que ser como uma criança. essas palavras de Jesus chamam atenção em razão de que ao mesmo tempo que é recomendado ao cristão, que quer fazer parte do reino de Deus para que seja como criança, também há recomendações nas sagradas escrituras para que o cristão não seja como criança. E agora; Ser ou não ser como criança? Eis a questão! Aos olhos de muitos que dizem que a bíblia se contradiz isso poderia ser um exemplo de contradição, porém a bíblia é clara no que Jesus recomenda quando afirma que é necessário ser como uma criança bem como no que Paulo recomenda, por exemplo aos crentes da igreja de Éfeso, para que não fossem como criança (Efésios 4: 14).

É de suma importância que analisemos uma coisa: As palavras de Jesus, registradas no evangelho de Marcos, não foram direcionadas a todas as pessoas que estavam próximas d'Ele, mas diretamente aos que o seguiam. Vejamos, quando Jesus diz essas palavras havia acontecido uma atitude ignorante por parte de seus discípulos quando começaram a repreender as crianças que estavam sendo trazidas para que as abençoasse. Ao ver essa ação dos discípulos Jesus os repreende dizendo que deixasse vir até ele todas aquelas crianças, e aproveita o momento para mostrar que os herdeiros do seu reino precisam primeiramente ter características como daquelas crianças, se assim quisessem entrar no reino que era anunciado.

No processo de nossa vida cristã somos igual criança no início de suas primeiras atividades. Com o passar do tempo a tendência é que cresçamos e venhamos a atingir a maturidade. Nesse processo de crescimento na fé podem ocorrer pelo menos dois problemas que podem afetar um crescimento sadio;

- 1) O tempo passa e o crente ao invés de crescer e tornar-se maduro na fé, acaba por estagnar seu crescimento mantendo sempre a dependência total naquilo que já não cabe mais depender, não caminhando com as próprias pernas. Por exemplo, o crente imaturo depende de uma convocação do pastor para a oração, caso contrário ele não desenvolve esse hábito quando está sozinho, ou, não é capaz de se alimentar da palavra através de uma meditação diária das escrituras, somente quando vai á igreja que leva sua bíblia para poder fazer a leitura durante o momento da mensagem;

- 2) Em outros casos com o passar do tempo algumas pessoas, a medida que crescem na fé, começam a perder virtudes que são características de uma criança como por exemplo; a pureza, sinceridade, confiança plena. Isso também pode ser perigoso, pois esse crente sente-se tão confiante em si mesmo que pensa que não depende demais ninguém na sua caminhada de fé e caba esquecendo da sua necessidade de comunhão com o corpo de Cristo, chegando a tornar-se orgulhoso diante de tanta independência.

Analisemos algumas características que devemos e que não devemos ter. Na maioria das vezes o adulto se torna exemplo para uma criança, mas na proposta de Jesus registrada no evangelho de Marcos é a criança que se torna exemplo para o adulto. Vejamos algumas características positivas no caráter de uma criança;

• PUREZA: Dos lábios das crianças sai o perfeito louvor, sendo assim mantida a pureza (Mt 21: 16);
• ABERTURA E RECEPTIVIDADE: o reino de Deus só pode ser recebido mediante dádiva e não sob esforço humano, entendendo que somente a graça maravilhosa e o sangue de Jesus é que o farão entrar nesse reino (Mt 10: 14, 15);
• DESPRETENSÃO: pois os discípulos imaginavam um reino terreno com cargos e funções de autoridade a serem exercidos, Por isso ocorriam várias discussões entre si sobre quem seria o maior nesse reino (Mt 18: 1-4);
• DESEJO ARDENTE: assim como uma criança que anseia pelo leite materno, o desejo e a fome pelo alimento espiritual é uma característica indispensável á um cidadão do reino de Deus, pois este alimento o torna saudável marcando sua vida na fé em Cristo Jesus (1 Pd 2: 2);
• HUMILDADE E CONFIANÇA: o rei Davi faz referencia a essas características colocando a figura de uma criança recém desmamada que anda confiante ao lado da mãe, sem soberba ou arrogância, mas humilde e confiante (Sl 131: 1-3).

Vejamos também algumas características negativas, que o cristão deve rejeitar para entrar nesse reino:

• INSTABILIDADE NA FÉ: aqui o apóstolo Paulo adverte os crentes de Éfeso quanto a sua instabilidade, igual a de uma criança que não sabe ainda decidir o que quer. Essa instabilidade na vida cristã faz com que muitos sejam facilmente enganados e destruídos pela falta de querer conhecer a fonte de toda a verdade, ou seja, a palavra de Deus (Ef 4: 14);
• DIVISÃO E INVEJA: essas características são marcas de um crente carnal que foi mal formado na sua vida cristã, trazendo ainda marcas de sua vida impia, mas essa marcas com o passar do tempo na vida com Deus devem desaparecer. Muitos crentes ainda permanecem como crianças nesse sentido chegando a fazerem acepção de pessoas, pois conseguem causar divisão no corpo de Cristo com preferências por grupos de pessoas, ministérios disso e daquilo, pastores, cantores...por essa razão Paulo exorta fortemente os crentes de corinto por ainda terem essa prática infantil e carnal no meio deles (1 Co 3: 1-3);
• PRETENSÃO: ao passo que como característica positiva a despretensão é necessária no desenvolvimento do caráter do cristão que quer se sentir parte do reino de Deus, para o crente imaturo na fé a pretensão é uma característica que também faz parte do seu caráter, não permitindo abrir mão de ser beneficiado de alguma forma, pois na sua falta de entendimento da palavra se achará sempre merecedor de recompensas por servir a Deus. No seguimento do texto de Marcos onde Jesus chama as criancinhas para dar exemplo aos discípulos, a história continua com a aparição de um jovem que tinha tudo para ser um integrante do reino de Deus, pois como o próprio texto mostra este jovem cumpria todos os mandamentos desde sua juventude (Mc 10: 19, 20) e Jesus reconheceu esta qualidade nele. Mas isto não era suficiente para alguém que queria fazer parte desse reino que Jesus anunciava. Ao ser confrontado por Jesus esse jovem não suporta a ideia de ter que abrir mão de suas propriedades e dividir com que não tinha nada, preferindo assim abrir mão do reino de Deus. Esse jovem é um exemplo claro de um crente pretensioso, que só se interessa em seguir a Cristo se tiver algum benefício que lhe seja conveniente.

Escrevendo á igreja de corinto Paulo fala sobre sua própria condição, tanto anteriormente ao evangelho quanto no presente momento que vive as marcas do evangelho de Cristo. Essas marcas são sinais de um amadurecimento sob circunstâncias desfavoráveis ao conforto do viver humano, mas que acrescentam em glória no viver a eternidade com Cristo (1 Co 13: 11).

Por fim podemos aprender com esses exemplos que a bíblia nos traz, que como cristãos devemos ser como criança apenas na pureza de coração, mas nas atitudes da vida cristã precisamos ser e agir como adultos, maduros na fé.

Sejamos como criança, e não criança!

Voltemos Ao Verdadeiro Evangelho!

**Este artigo foi baseado na pregação de mesmo título, ministrada pelo pastor Olavo Nunes Neto no culto da manhã de domingo (09/03/2014), sendo também extraídas partes do esboço da mensagem ministrada.