Texto bíblico: João 3:16-18,36
Escrito por: Rogério JardimAo refletir sobre a fé olhando o cenário atual no qual a igreja de Cristo está vivendo parece que está tudo certo, se observado superficialmente. Digo que parece estar tudo certo pelo notável crescimento, nos últimos anos, daqueles que se definem como "Crentes". No último censo realizado pelo IBGE constatou-se que apenas 7,4% da população pertence a classe dos que se declaram "Sem religião". Sendo assim o grande percentual dividido entre outras religiões aponta um crescimento expressivo principalmente no segmento evangélico. Com base nesses dados poderíamos dizer que temos o privilégio de ter um grande percentual que crê. Mas crê no que? Ou melhor, para onde está direcionada esta fé?
Nunca se ouviu falar tanto sobre fé como nos últimos 20 anos. Com o surgimento do movimento neo-pentecostal a fé passou a ser vista com um imã para atrair benefícios e coisas positivas, em contraste com o pentecostalismo tradicional que a direcionava na busca incessante pela manifestação dos dons para a igreja. Algumas religiões, principalmente de segmento oriental, entendem que o indivíduo precisa concentrar pensamentos positivos em si mesmo para então estabelecer um contato de fé com o criador. Fato é que os tantos movimentos que surgiram ao longo dessas últimas décadas, principalmente dentro do cristianismo, contribuíram para que grande parte dos cristãos vivessem cada vez mais longe do verdadeiro propósito para o qual Deus os separou. Para alguns esse crescimento expressivo representa um fortalecimento na igreja. Para outros (no qual me incluo) o declínio dela.
Talvez João 3:16 possa ser considerado o versículo mais conhecido e usual, mas ele nos fala muito sobre a fé como sendo o elemento único para o principal propósito que Deus estabeleceu com sua igreja (Salvação / Vida eterna). Nos versículos 16,17 e 18 fica evidente o propósito da fé, pois neles João fala sobre ser salvo de um julgamento e a fé como elemento essencial para a salvação. Em todo o seu contexto o texto mostra a necessidade de crer, mas não há como crer sem fé, e não fala de crer em qualquer coisa, mas sim no unigênito filho de Deus que não veio para julgar o mundo e sim salvá-lo do juízo. O problema é exatamente esse. Como consta no início deste artigo o crescimento de pessoas que se definem como cristãs tem sido frequente nesses últimos anos, mas poucos desses creem e reconhecem Cristo como Senhor, Redentor e Salvador pelo fato de que os novos movimentos banalizaram o verdadeiro ensino bíblico privando as pessoas que os seguem do verdadeiro entendimento bíblico sobre sua condição e posição em relação a Deus. Desta forma entendem que devem usar a fé (que não possuem) para exigirem que Deus realize seus mais diversos sonhos e benefícios.
Nas redes sociais tem aumentado cada dia mais as correntes das frases de efeito como alguns exemplos que vi há alguns dias atrás: "Eu profetizo hoje um dia de vitória em todas as áreas de sua vida, se você crê digite, EU CREIO" ou ainda "Eu determino toda sorte de benção na sua vida, se você crê digite, AMÉM". Na tarde de hoje vi uma dessas correntes e me admirei, pois apenas 4 horas depois de ter sido lançada numa página do facebook já se aproximava dos 8 mil "Amém / Eu creio" digitados. Ao ver isso não fiquei me questionando se todas aquelas pessoas creem naquela promessa feita por alguém do outro lado do computador, mas sim se elas creem verdadeiramente no que deve ser crido. Tais movimentos e correntes sugerem que somos capazes de crer por nós mesmos e até que somos capazes de produzirmos um tipo de fé. Pior do que isso é alguém se achar dono de alguma profecia ou benção para sair determinando, profetizando e distribuindo a todos que quiserem.
A palavra de Deus nos confronta ao mostrar que não somos donos de dom algum, nem somos capazes de produzirmos fé em nós mesmos por não a possuirmos. Ao escrever aos Efésios Paulo afirma que não podemos ser salvos por nenhuma obra produzida por nós mesmos, mas sim pela graça manifesta em Cristo e somente por meio da fé e isso não vem de nós mesmos, é dom que Deus concede a quem quer salvar. Fé não pode ser uma produção humana, pois ela vem de Deus, Ele a possui e Ele a concede por sua graça manifesta em seu filho, para salvação, por meio da fé nessa graça salvadora manifesta (Efésios 2:8). Foi Deus que concedeu Cristo como graça manifesta e somente Ele concede a fé para crermos dessa forma. Sendo assim o texto de João mostra que essa graça manifesta não foi para a salvação de todos, colocando então uma condição a um público, pois o verso 16 não mostra que "Todos" terão vida eterna, ou serão salvos da perdição eterna, mas apenas "Todo" aquele que crê será salvo de uma eternidade sem Cristo. Em acordo com João o livro de Atos mostra que ao pregar em Antioquia um grupo de gentios se alegrava com a pregação de Paulo, mas creram nas suas palavras somente aqueles que haviam sido destinados para a vida eterna (Atos 13:44-48). Essa "fé" estimulada por "profetas" e criada pelas pessoas para fins que em nada testificam sua verdadeira razão não passa de uma crença qualquer sem origem, resultado ou efeito (Tiago 2:19).
Na busca incessante por conquistas materiais ou pela cura de uma enfermidade (características estabelecidas e fortalecidas pelo neo-pentecostalismo) as pessoas tem a facilidade de serem levadas a confundir fé com motivação. Reuniões de determinadas igrejas parecem mais palestras motivacionais do que culto a Deus. Nessas reuniões as pessoas são levadas e ensinadas a usarem a fé para saírem de uma situação financeira ruim ou serem curadas de uma dor no braço ou nas costas. Cegamente algumas pessoas acreditam nessas futilidades e pensam que tem fé. No cenário atual os atos proféticos, o movimento das várias unções (leão, jatinho, pião, riso, cura interior, lava pés...) e a adoração extravagante fazem as pessoas acreditarem que estão mais próximas de Deus e que estão desenvolvendo um relacionamento de intimidade com Ele, ao ponto de perderem a reverência com o Senhorio e Soberania de Deus, não reconhecendo Deus como Senhor e Soberano pensam estar lidando com um amiguinho querido ou com o paizinho amado que está disposto a realizar os desejos dos seus corações. Esses movimentos criados por adoradores de satanás, ou, no mínimo por pessoas não convertidas a Cristo, proporcionam exatamente isso, uma "igreja" sem fundamentos, sem rumo, sem fé e por consequência sem salvação.
Parte da igreja atualmente vive numa condição semelhante a de Nicodemus, que pensava cumprir uma vida de fé exemplar por ser criterioso na observância da lei. Ao encontrar-se com Jesus é confrontado por Ele a abandonar aquela condição e nascer de novo. O termo nascer de novo, usado por Jesus, é "ano-them" indicando que Nicodemus não deveria nascer da terra como já era nascido, mas sim nascer do céu. O que Jesus nos mostra aqui é que assim como no nosso nascimento natural terreno não temos nenhuma participação nem somos capazes de produzir o nosso nascimento, assim também a fé não pode ser produzida por nós mesmos e sim gerada por alguém que a tem para conceder a quem quer salvar.
A fé genuína não nos motiva a sentir-nos merecedores de algum benefício ou até mesmo exigirmos isso de Deus pensando estarmos exercendo um ato de fé. A fé como dom de Deus para salvação provoca em nós um efeito contrário a isso, fazendo com que nos sintamos envergonhados, humilhados e rebaixados por nossa condição de pecado reconhecendo o sublime amor de Deus que nos alcançou não sendo nós merecedores de favor algum de sua parte (Filipenses 2:5-11). A fé verdadeira nos humilha na humilhação de Deus para glorificá-lo. Ao escrever aos Filipenses o apóstolo Paulo nos chama a atenção quanto a condição que Cristo assumiu e a condição que devemos assumir por conta de sua obra redentora. Cristo assumiu na cruz um lugar de vergonha, de humilhado, de maldito (Deuteronômio 21:22,23 / Gálatas 3:13) e é exatamente esse sentimento que devemos ter no tocante a fé para salvação em Cristo.
João nos mostra que a condição que Cristo assumiu é a base da nossa fé para salvação, pois assim como a serpente que Moisés levantou numa haste quando estava com o povo no deserto era para sarar as mordidas das serpentes que foram enviadas por Deus para matar todos aqueles que haviam pecado contra Ele (Números 21:4-9), assim também Cristo estava sendo levantado no madeiro para sarar do pecado os seus escolhidos a fim de manifestar a verdadeira salvação. Cristo não foi crucificado como um maldito humilhado, nem levantado como a serpente de bronze somente para curar enfermidades físicas e sim do pecado para salvar da perdição eterna os seus escolhidos. Notemos que a condição para ser salvo é crer (João 3:14,15,18,19,36).
Não nos enganemos com os falsos pregadores do falso evangelho que tentam mostrar com coisas sem nenhum fundamento que fé é para alcançar benefícios próprios sem nenhum reconhecimento a Cristo e sem resultados para a eternidade. Fé é para salvação. Deus ama a todas as pessoas, mas será salvo somente aquele que crê. Este é o critério para a salvação (João 3:36).
Voltemos Ao Verdadeiro Evangelho!
Um comentário:
O que nos salva..não é nossa fé Nele..e sim a fé(fidelidade de Cristo)..pistis(fé) tem sentido também de FIDELIDADE..romanos 5:19..somos justificados pela obediência Dele.
Postar um comentário