Texto bíblico: Rm 8: 1, 2 / 2ªCo 5: 16, 17
Escrito por: Rogério JardimCom base nos textos que o apóstolo Paulo escreve a essas duas igrejas, quero propor aqui uma análise desses textos seguidos de uma reflexão sobre um assunto que ainda hoje é familiar nos nossos cultos evangélicos. Comumente ainda ouvimos algum anúncio como por exemplo: “tal data estará aqui na igreja o irmão fulano de tal, que era bruxo, bandido, drogado, mago da magia negra, etc....dando seu testemunho. Não percam, Deus vai transformar sua vida”. No determinado dia a igreja está tão lotada que não há lugar para sentar-se, pois todos querem ver o dito cujo e ouvir o que tem para contar sobre os tópicos que foram anunciados referentes ao seu passado.
O problema aqui não é o fato de alguém testemunhar algo que Deus fez na sua vida, seja um milagre recebido, um livramento, ou até mesmo sua transformação através do evangelho. O problema é colocar qualquer uma dessas dádivas recebidas no lugar da pregação do evangelho, que é o único que tem poder para curar, libertar, restaurar e operar qualquer milagre na vida de alguém.
Há pouco tempo assisti duas histórias (que não posso chamar de testemunho) de dois indivíduos que se diziam ter sido bruxos e magos de elevados graus da magia negra, e já como parte do lema prestavam seus serviços à determinada(s) emissora(s) de televisão, trazendo com isso uma grande quantidade de pessoas para aquela reunião, deixando a igreja superlotada. Mas o que mais chamou minha atenção no depoimento desses dois senhores foi o fato de que durante o tempo que tiveram a oportunidade para falar em nenhum momento houve pregação do evangelho, e sim uma crônica de suas atrocidades e vida decadente no passado, seguidos de continuas exclamações por nomes de demônios, que diziam serem antes os seus guias.
Ao final dos depoimentos não pude deixar de perceber a expressão no rosto de algumas pessoas que estavam presentes ali. Umas expressavam admiração, outras espanto, indiferença, medo, etc... Com isso lembrei certa vez, quando ainda era criança com aproximadamente 9 ou 10 anos, quando meu pai ouviu falar de certo homem, que não direi o nome por uma questão de ética, que havia se convertido ao evangelho e estaria numa igreja próxima de nossa casa dando seu testemunho. Eu estava ansioso pelo momento, pois na minha comunidade se ouvia falar muito dele por ter sido um bruxo e mago de alto escalão da magia negra, e eu estava interessado na história. No final a reação das pessoas não foi diferente das que citei antes, mas a minha em particular foi de terror e medo total, a ponto de não conseguir dormir de luz apagada durante um mês, tamanha confusão e admiração aquilo me casou.
Hoje quando vejo esse tipo de apelo para arrebanhar pessoas para os cultos, nem perco o meu tempo me perguntando por que esses homens agem assim. Mas fico me perguntando por que a igreja permite isso? E só tem uma explicação; por que falta palavra e não há mais nada que prenda a atenção dos crentes, e também porque parte dos crentes não tem um filtro suficientemente forte no evangelho verdadeiro para não se permitirem a isso.
Na carta que o apostolo Paulo escreve aos coríntios há uma recomendação incomum ao texto descrito na carta que escreve aos romanos, reforçando que para aquele que está em Cristo já não há mais condenação, sendo possível viver uma nova vida em Cristo, destacando algumas recomendações importantes aos que se propõem a viverem segundo o espirito e segundo a carne. Quero destacar aqui a recomendação do apóstolo descrita no versículo 16 de 2ªCo 5, quando observa que não haja a possibilidade de ninguém ser conhecido na carne, assim com a Cristo, que outrora foi conhecido na carne, mas agora já não deve ser conhecido nem lembrado assim. Desta forma aos que antes viviam nas obras da carne (Gl 5: 19 – 21) já podem se gloriar em Cristo e não viverem mais nessa condição, pois ele morreu por todos aqueles que antes viviam para si mesmos, mas agora devem viver para Cristo que os libertou da condição de pecado através de sua morte e ressureição.
Não sou contra o testemunho pessoal de alguém sobre algo que Deus tenha feito, entretanto um testemunho pessoal não pode ser marca registrada de uma pessoa só porque um dia ela foi alguém que serviu as forças do mau, ou porque era doente, ou porque não tinha nada e agora tem de sobra, ou qualquer outra coisa. O maior testemunho diário que podemos dar sobre nós é a forma que vivemos, denunciando quem somos, o que somo e a quem servimos.
Um testemunho pessoal não é dado em qualquer momento, a qualquer pessoa ou repetidas vezes, pois seu propósito é de juntamente com a palavra exercer oficio de motivação, fortalecimento ou reflexão para alguém que possa se encontrar numa situação semelhante a que aquela outra pessoa já esteve, mostrando assim que verdadeiramente pode haver uma forma da condição daquela pessoa mudar, se assim ela crer e se Deus tiver um propósito nisso. É necessário entender que nem todos que ouvem um ex-bruxo são bruxos, nem todos que ouvem um ex-drogado são drogados. Sendo assim o que um depoimento coletivo dessa natureza pode acrescentar na vida destas pessoas senão daquelas que se identificam num dado momento com aquela condição de vida.
Um exemplo disso é o próprio apostolo Paulo, pois não o encontramos dando depoimentos sobre seu passado e seus atos hostis de perseguidor e assassino de cristão. Pelo contrário, numa situação quando recém convertido ao evangelho precisou dar testemunho sobre sua nova vida a fim de ser aceito pelos outros discípulos para darem continuidade a obra de evangelização, foi Barnabé que deu testemunho sobre ele para que assim pudessem aceitá-lo e acreditarem em suas palavras. Num segundo momento quando escreve sua primeira carta a Timóteo (1ªTm 1: 13) Paulo vê a necessidade de acrescentar seu testemunho de gratidão a Deus, reconhecendo que não era digno da misericórdia que lhe fora concedida por ter afrontado aquele evangelho no qual ele agora se gloriava em viver. Fora isso não há exageros nas suas mensagens nem proposito do apostolo em continuar seu ministério baseado no que foi um dia.
João, o discípulo amado de Cristo chama a atenção ao escrever sua primeira carta (1ªJo 5: 9 – 11) e mostra que se somos capazes de admitir o testemunho dos homens, o testemunho de Cristo é bem maior, pois o testemunho que Deus dá a respeito de seu filho é que todo aquele que crê no filho de Deus tem em si o testemunho. Mas no seguimento do versículo 10 joão chama a atenção usando outro termo que mostra diferença, pois não usa o verbo “crer”, mas o termo “não dá crédito”. No inicio do versículo 10 ele diz “aquele que crê no filho de Deus tem em si o testemunho” e no seguimento do versículo ele diz que “aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, pois não crê no testemunho de seu filho”. Ora o testemunho é que Deus nos deu a vida eterna e essa vida está no seu filho.
É importante observar que João está dizendo que todo aquele que se diz anunciar o evangelho de Cristo, mas não dá crédito para Deus, pegando esse crédito para si e não os dá a quem realmente os merece, que é Deus, faz dele um mentiroso. Pois qualquer um que não tenha suas expectativas correspondidas mediante o que fora dito pelo homem insensato dirá que não há verdade no evangelho. A verdade está em Deus, e não na palavra insensata de qualquer homem. Não há poder de salvar na palavra ou no testemunho de qualquer pessoa, mas sim no evangelho de Cristo, e só nele.
A igreja atualmente ainda percorre um caminho perigoso por não fechar as portas aos “pseudos-convertidos” que não tem outro objetivo senão buscar honras para si mesmos, gloriando-se nas suas próprias obras e não reconhecendo a soberania de Cristo e o poder na sua palavra, não sendo necessário acrescentar mais nada a não ser a verdade da palavra de Deus.
O próprio Jesus ordena que examinemos as escrituras (Jo 5: 39), pois não há outro meio de sermos livres ou nos achegarmos a Deus se não for por meio de sua palavra, pois nela está a vida eterna para nós pelo fato de ela mesma dar testemunho de Cristo, não sendo necessário nem possível usar outros métodos, ou palavras ou pessoas que possam dar mais importância do que ela mesma merece e pode mostrar, nem trazer para si mesmos uma importância que não lhes confere.
Quando insistimos em tentar mostrar Jesus falando somente do que já fomos ou fizemos, nada mais estamos fazendo do que continuarmos nos condenando pelo que fizemos ou vivemos, das quais Cristo já nos libertou. Sendo assim uma vez livres do pecado não há mais como viver na mesma condenação, pois uma nova vida nos espera e essa nova vida nos leva a gerar novas vidas em Cristo e para Cristo.
Romanos 8:1 / 2ªCo 5:17
Arautos do Rei - Eu não sou mais eu
#VoltemosAoVerdadeiroEvangelho
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