segunda-feira, 28 de julho de 2014

Não julgar para não ser julgado: Causa do fracasso!

Texto bíblico: Mt 7: 1-5 
Escrito por:  Rogério Jardim
Com base neste texto do evangelista Mateus por vezes algumas pessoas tendem a interpretá-lo de uma forma que os leva a pensar que o cristão não pode ou não deve julgar, pois esse tipo de ação é exclusivamente de Deus e fazendo isso o crente pode estar pecando contra ele ou contra o seu irmão, caso o julgamento seja sobre alguém. Ou senão gera a dúvida se pode, ou, deve o cristão fazer isso. Pois bem vamos pormenorizar o assunto para entendê-lo melhor.

Inicialmente precisamos concordar numa coisa: Em todo tempo julgamos. Por exemplo, em época de eleição não vamos as urnas sem antes formar algum tipo de opinião a respeito do candidato que iremos eleger, não é mesmo? E como formamos essa opinião se não tivéssemos julgado as propostas que o candidato fez em seus discursos antes daquele momento final? Interessante é que para formarmos aquela opinião a respeito do nosso candidato fomos criteriosos e não nos deixamos levar somente pelo discurso que ele fez durante sua campanha, mas buscamos cruzar aquelas informações analisando o que o cidadão fez em suas gestões anteriores, ou, de onde ele vem, para então criarmos uma expectativa sobre suas propostas futuras (pelo menos é assim que todo cidadão deveria exercer seu direito democrático). Isso também é julgar.


O capítulo 7 de Mateus está na mesma sequência do capítulo 5, onde Jesus começa seus ensinamentos com o sermão da montanha. Isso é possível observar pela fato de não ocorrer intervenção narrativa desde o capítulo 5:3 até o capítulo 7:27. Sendo assim o assunto que Jesus está tratando aqui não se refere a neutralidade, mas sim uma advertência quanto a severidade por justiça própria. A prova dessa conclusão está nos versículos finais deste capítulo, quando Jesus, ao falar sobre os falsos profetas adverte o povo para que "tomassem cuidado com eles" (v 15). Logo em seguida conclui seu ensino dizendo que "é pelos frutos que se pode conhecer entre o falso e o verdadeiro profeta" (v 20). Mas como distinguir entre o verdadeiro e o falso se não julgar as obras (frutos) do cidadão com sua doutrina pelas escrituras? É desse julgamento que Jesus está falando. Em nenhum momento Jesus está proibindo o cristão de julgar, mas sim advertindo quanto ao julgamento que lhe é permitido fazer, bem como o dever de fazê-lo.

No texto de Mateus 7:1-5 encontramos Jesus chamando a atenção quanto ao julgamento baseado na hipocrisia, ou seja, alguém julgando uma pessoa sem antes ter estado na posição dela. Pior do que isso, estar julgando-a estando na mesma situação de decadência moral, aproveitando-se da decadência do outro para esconder a sua (Mateus 7:5 / Romanos 2:1). A atitude correta para isso Jesus já havia mostrado quando iniciou seu discurso no capítulo 5:7 quando ensina que "bem aventurado é aquele que usa de misericórdia, pois também a alcançará". É somente essa ação que Jesus está condenando. Creio que o que precisamos entender como cristãos é que, não só temos o direito de julgar como o dever de fazê-lo. Mas para isso precisamos saber o que podemos julgar e de que forma, pois temos limites para isso, e há julgamentos que somente Deus pode fazer. Entretanto o julgamento que nos cabe Deus não irá intervir nem se responsabilizar.

A igreja de Cristo tem sido invadida por heresias no seu meio porque não há mais quem julgue. Hoje, por exemplo, presenciamos nos cultos de nossas igrejas músicas profanas que recebem o título de louvor ou adoração, mas em seu contexto a mensagem camuflada não traz em nenhum momento adoração, exaltação, humilhação, reconhecimento ou reverência ao Deus único, soberano e criador. Dessa forma a igreja também não é levada a esse intuito, pois o objetivo da música não é esse, bem como o objetivo do cantor que a introduziu ao destaque, pois grande parte deles não tem compromisso com o único e verdadeiro evangelho (o da cruz de Cristo). Em muitos casos a música tem o objetivo de substituir o momento de reflexão da palavra (que é o que realmente edifica a igreja) deixando um espaço mínimo demais para que haja edificação e verdadeira comunhão. Em outros casos a música tem uma mensagem totalmente antropocêntrica colocando o indivíduo como alvo principal onde tudo está direcionado a realização dele, ou senão tentar levar o crente a uma intimidade tão grande com Deus ao ponto de esquecer quem é Deus e quem é o pecador, fazendo com que aos olhos dessa pessoa Deus se torne mais um amigão do dia a dia do que Senhor. Se nos aprofundarmos nas escrituras não será nem necessário dar nomes de cantores ou músicas que tem esse objetivo, pois a própria palavra nos faz enxergar de forma clara e sem enganos.

De outra forma a pregação do evangelho também tem se tornado uma arma perigosa por homens que se intitulam pregadores da palavra, mas que ao abir sua boca o que sai é apenas confusão e engano, pois não tem compromisso com Cristo nem com seu evangelho de salvação. A proposta de sua mensagem não é fazer com que as pessoas sigam a Cristo, abandonando seus pecados e reconhecendo seu Senhorio, mas sim que os sigam de olhos e bocas fechados para que seja cada vez mais difundido seu engano em benefício próprio. Em ambos os casos a igreja só sofre essa invasão porque não há mais quem julgue. A falta de profundidade nas sagradas escrituras os fazem pensar que se julgarem a pregação ou a música podem estar pecando contra Deus, ou pior, contra o seu "ungido". O próprio Jesus disse para que "examinássemos as escrituras, pois julgamos ter nelas a vida eterna" (João 5:39). 

Há duas possibilidades quanto a esse versículo de João, uma é que esse termo foi usado por Jesus no imperativo (Examinai as escrituras), sendo como uma ordem dada. Outra é que na estrutura gramatical do grego é possível que tenha sido usada na forma indicativa (Costumais examinar as escrituras), sugerindo uma ação contínua e costumeira. Ao falar isso Jesus estava dizendo que sua igreja precisa conhecer a fundo o plano de Deus que seria realizado em Cristo e só em Cristo. Em ambas possibilidades a mensagem é a mesma, ou seja, é necessário que o cristão tenha como regra na sua vida cristã fazer com que tudo passe pelo filtro da análise bíblica, pois são elas que testificam sobre a verdade. Saber julgar corretamente agrada a Deus, mas muitas vezes por falta de entendimento e profundidade na palavra muitos crentes acabam sendo coniventes com erros doutrinários no meio da igreja pensando que não podem julgar o que foi falado ou cantado. 

É DEVER DO CRISTÃO JULGAR TUDO QUE TEM POR OBJETIVO EDIFICAR A IGREJA:

Ao chegar em Beréia Paulo se deparou com um grupo diferente, pois todos os dias examinavam as escrituras para se certificarem se o que Paulo lhes falava conferia com as escrituras (Atos 17:11). Os bereianos julgaram a pregação de Paulo para só depois o aceitarem como ministro do evangelho da salvação, pois entenderam que Paulo anunciava o que as escrituras aprovavam. Ao escrever sua primeira carta aos Coríntios Paulo recomenda para que não se associassem com enganadores que tentavam difundir no meio da igreja suas mentiras ao ponto de nem mesmo comer com eles, instigando-os a exercerem julgamento de forma coerente (1ª Coríntios 5: 10,11) E ainda convoca-os para que haja no meio da igreja o hábito do julgamento de forma sábia (6:5 / 10:15).

Para rejeitar o falso evangelho é necessário julgar. Quando escreveu sua segunda carta o apóstolo Pedro faz observações quanto ao aparecimento de falsos profetas que trariam destruição para a igreja de Cristo (2ª Pedro 2:1). João faz observações semelhantes ao assunto que Pedro escreveu, e ao advertir a igreja sobre o aparecimento dos falsos ensinadores do evangelho mostra que ela precisa estar alerta e julgar pelo fato de ter recebido conhecimento para isso, não se permitindo serem enganados (1ª João 2:20). Se analisarmos o conteúdo da carta de Pedro e de João veremos que em todo tempo a igreja é convocada a exercer seu senso crítico através do julgamento das coisas que lhes são dispensadas, sendo isso necessário para não serem enganados. Em sua segunda carta João traz novamente o assunto para enfatizar que depois de certificar-se que se trata de falsos ensinadores tome-se a seguinte ação: "nem mesmo o recebais em casa ou lhe dê boas vindas" (2ª João vs 10 e 11). Mas como tomar essas ações preventivas se não julgar as coisas que tem por objetivo edificar a igreja? Somente julgando é que saberemos se realmente vem da parte de Deus para edificar sua igreja, ou, se da parte de satanás para enfraquecê-la.

CUIDADOS QUE O CRISTÃO DEVE TER AO JULGAR:

Podemos observar que julgar é necessário para que haja crescimento espiritual sadio no meio da igreja, e que o cristão não pode abrir mão disso, pois caso contrário será uma vítima dos enganadores ou até mesmo tornar-se parte deles, colaborando na propagação de uma mensagem com a qual Deus não tem compromisso.

Entretanto não podemos esquecer de uma coisa. Como escrevi no início do assunto, não só podemos julgar como devemos, porém nunca esquecendo que devemos ter cuidado ao exercer isso, pois temos limites para para tal coisa, e o que nos cabe julgar é apenas as coisas que tem por objetivo edificar a nossa fé como igreja de Cristo.

Julgar criteriosamente e de forma sábia nos leva a termos alguns cuidados, como por exemplo:

- Julgar sem condenar, pois só Deus pode exercer juízo (Romanos 2:3 / 1ª Coríntios 5: 12,13 / Tiago 4:11,12);

- Ser tolerante com os fracos na fé ( Romanos 14: 1-23);

- Não precipitar conclusões por julgamentos mal estabelecidos (1ª Coríntios 4: 5);

- Ter bom senso com os que falam a verdade, mas cometem algum erro numa parte da pregação (1ª Tessalonicenses 5: 21).

Que Deus nos ajude a vivermos em santidade edificando-nos uns aos outros sem condenar a ninguém, julgando sempre as más obras daqueles que tentam enganar a igreja de Cristo com a intenção de enfraquecê-la e desviá-la da salvação em Cristo Jesus e da vida eterna que nele temos.

JULGUE, NÃO CONDENE!



Voltemos Ao Verdadeiro Evangelho!

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