Texto bíblico: Lc 8: 43-48 / Mc 6: 53-56
Escrito por: Cesar Fabrício
Gostaria que antes da leitura deste artigo, todos os leitores pudessem fazer a leitura dos textos bíblicos como referência dos argumentos que aqui serão analisados.Antes da fundamentação principal deste artigo, quero fazer aqui uma breve introdução dos dogmas e tradições do povo judeu, pois assim poderemos fazer a associação do ocorrido nos textos citados da Palavra.
A FRANJA
Os judeus exilados na Babilônia, devido à inexistência do templo passaram a adquirir o hábito de culto centrado nas sinagogas, que ali no próprio exílio teve seu desenvolvimento, pois a origem da palavra hebraica para sinagoga significa “casa de reunião”. Apesar da sinagoga não se limitar ao prédio construindo como é o entendimento de muitos, ela passou a ter grande expressão como local de culto para os judeus no período pós – exílio e logo após o decreto do Rei Ciro autorizando os judeus exilados a retornarem para a terra de Judá os locais de culto ganharam força com a construção das sinagogas.
No ministério terreno de Jesus, os judeus concentravam suas reuniões de oração e ensino das Escrituras nas sinagogas. A abertura de um culto judeu dava-se com a recitação da Shemá (Ouve Israel). Entretanto esse ato litúrgico de culto tem maior profundidade no ceio da família judaica, pois essa mesma recitação era feita também ao nascer do sol e ao anoitecer, suas crianças antes mesmo de balbuciar as primeiras palavras, ouviam todos os dias de seus pais a recitação da Shemá.
É dever de todo judeu ensinar aos seus filhos o “Shemá”. O Shemá é composto de três textos da Torá (Dt 6.4 / Dt 11.13-21 / Nm 15.37-41). Segundo a tradição esses versos da Torá devem ser lidos cuidadosamente e sem interrupção, pois existe uma reverência total por parte dos judeus a essa recitação. As crianças desde a tenra idade aprendem sobre a Shemá.
Dentre os textos que compilam esta leitura sacra para os judeus, podemos observar que o texto registrado no livro de números (Nm 15.37-41) trata de obrigações impostas pelo Senhor ao seu povo, tais como a confecção de franjas nas bordas de suas vestes, pois estas franjas tinham uma finalidade educativa de forma visual, pois cada judeu que olhasse para estas franjas que estavam na vestimenta de seu irmão lembrariam-se dos mandamentos e observariam os preceitos divinos.
A confecção destas franjas tinha um significado muito profundo e cuidadoso, de modo que elas representavam a TORÁ.
Toda Lei da Torá foi dividida pelos judeus em 613 mandamentos deixados por intermédio de Moisés. Estas franjas eram compostas de oito (08) fios, que representavam os oito órgãos do corpo humano que estimulavam o homem a pecar, tais como (ouvidos, olhos, boca, nariz, mãos, pés, genitais, e o coração); nestes oito fios eram feitos cinco (05) nós, que representavam os cinco primeiros livros que era o Pentateuco de Moisés, isso demonstrava para todo judeu que visualizasse as franjas o quanto a Lei deve estar acima de toda concupiscência humana, pois os nós simbolizavam o poder da Lei amarrando as ações da carne.
Outro detalhe era numérico, pois a soma dos 8 fios mais os 5 nós era igual a 13; e a palavra hebraica para franjas é “tzitzit” que segundo a Mishná dos judeus tem o valor numérico 600, ou seja; a soma dos fios, nós e da franja é de 613, o que totaliza a quantidade dos mandamentos que compõem a Torá. Cada judeu fazia uso do Talit Katan, peça obrigatória para os costumes rabínicos principalmente na época de Jesus; pois a finalidade pedagógica era lembrar os mandamentos.
A PALAVRA E O MILAGRE
O texto bíblico segundo escreveu São Lucas, nos traz um breve relato sobre a mulher com fluxo de sangue, que desde muito já havia gastado as esperanças, durante doze anos buscou a cura para sua hemorragia e não encontrou, quando esta mulher pode ouvir falar de um certo homem de Nazaré que anunciava uma mensagem do Reino dos Céus e ouviu também que muitos enfermos eram curados por Ele, logo nasceu a esperança em um coração quebrado e desiludido com a medicina da época, haja visto que todos os seus recursos financeiros foram gastos para obter a cura.
Esta mulher cujo não sabemos nem ao menos o nome para conferir sua arvore genealógica, sabia tudo sobre a recitação da Shemá, lembrando que as crianças judias desde tenra idade ouviam de seus pais esta recitação, na qual esta inserida as instruções para confecção das franjas do manto utilizado pelos judeus. Lembrando que pelo relato de Lucas uma multidão apertava a passagem de Jesus por Cafarnaum, e além deste empecilho também havia o fato dela ser considerada pela Lei, como uma mulher impura e imunda.
Esta mulher tinha além do seu problema de longos 12 anos, o problema de aproximação de um líder que arrastava as multidões ao seu encontro e estava cercado por homens de expressão religiosa no meio dos judeus, no entanto o foco principal dela como saída foi visualizar aquilo que desde criança ouviu e por muitos anos refletiu, portanto aquela simples mulher condenada pela sociedade religiosa e excluída pelos próprios familiares por ser imunda, acredito firmemente mesmo que não haja registro literário sobre tal feito, mas as circunstancias assim nos impulsionam a conjecturar que ela rastejou solo abaixo deixando assim seus obstáculos para traz focando apenas tocar na orla de sua veste, pois sabia que aquelas franjas que ali estavam eram de tamanha importância que se ao menos pudesse tocar ficaria curada. A Palavra seria viva e eficaz sobre sua vida, pois se aquele que estava ali anunciando boas novas de salvação era verdadeiramente o Filho do Deus vivo, sua enfermidade seria removida.
Aquela mulher não tocaria na orla de Jesus se não tivesse certeza que ali estava toda a eficácia da Lei, o único homem que cumpriu em si mesmo todas as ordenanças da Lei, mostrando que a Lei era boa, também de acordo com lei ela era considerada imunda, não podendo ser tocada e nem tocar em alguém, porque se a mesma toca-se em alguém também tornaria este um imundo, cabendo aqui a necessidade de purificação. Quando ela visualizou um Homem que segundo as multidões afirmavam que Ele era o Messias, logo associou os ensinamentos da recitação da Shemá, já que desde criança ouvia seus pais recitarem, criando assim esperanças na Palavra, pois sabia que a Palavra era a única fonte purificadora e quanto mais se um Homem justo a fizesse cumprir.
Buscou ir de encontro a Jesus, mesmo sabendo que não poderia toca-lo pois seus discípulos não permitiriam, no entanto as franjas das vestes de Jesus representavam a Lei amarrando a carne, e o toque nessas franjas seria um contato direto com uma Palavra sem formalismos e sem religiosidade, poderia encontrar ali o Poder purificador de uma Palavra que estava VIVA (JESUS).
Fica esse exemplo de superação registrado em Lucas para nossa vida hoje, pois quase sempre gastamos nossas esperanças, esgotamos nossa força lutando contra obstáculos que a cada dia vão ganhando força contra nossa vida.
Portanto é a Palavra que nos traz a cura, seja ela física ou espiritual, pois da mesma forma que essa mulher viu sair virtude de um símbolo deixado pedagogicamente pelo Senhor aos Judeus, podemos observar a Palavra Viva, que é Cristo revelado através das Escrituras e usá-la de forma correta para nosso MILAGRE, e quero aqui frisar que o maior de todos esses milagres que talvez você possa estar pensando, é o MILAGRE do NOVO NASCIMENTO em Cristo, que ocorre por meio da Palavra.
Que estejamos dispostos e sensíveis a essa vontade divina que é de nos encontrar e nos tirar de nossa condição enferma e decaída, condição esta que o próprio pecado proporciona. Mas podemos entender que nossa condição de pecado não pode permanecer indiferente à ação poderosa da palavra viva que em nós opera, através de Cristo.
Que Deus o abençoe, por meio de sua palavra.
#VoltemosAoVerdadeiroEvangelho
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