sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O dom de ser um inconformado - pt1

Texto bíblico: Rm 12: 2
Escrito por: Diego Cintrão
Vivemos em uma era de muitas possibilidades, principalmente em relação à religiosidade. No Brasil convivemos com inúmeros credos como catolicismo, espiritismo, testemunhas de Jeová, umbandismo, budismo, candomblé, religiões orientais, judaísmo, religiões esotéricas e os evangélicos, apenas para citar as 10 religiões mais conhecidas do país, segundo o IBGE. Porém, qual o ponto semelhante entre essas religiões e, principalmente, qual o ponto que diferencia a fé cristã dos demais credos?

A grande semelhança entre as principais religiões é seu caráter transcendental, ou seja, a possibilidade de ligação com “outro plano”, com o mundo espiritual. Para tanto, cada crença utilizará de seus ritos e símbolos para alcançar sua divindade. Outra semelhança é a função que a religião exerce de auxílio para as mazelas da vida terrena. As pessoas normalmente buscam na religião o apoio para superar dificuldades emocionais, ou para resolver problemas financeiros, ou apenas para usufruir do sentimento de comunidade e aceitação em um mundo cada vez mais individualista e egoísta. Ademais a maioria das religiões utilizam o que chamo de “magia da troca”, em que o fiel barganha com seu deus para conseguir benefícios, ou seja, a prática de se benzer, ungir, dar passe, fazer alguma oferenda, uma meditação específica, mentalizações, etc., com a finalidade de conseguir alguma facilidade nas batalhas de nossa vida.



Note que nessa breve caracterização, superficial é verdade, mas que aproxima grande parte das religiões, incluem-se os evangélicos e por um motivo óbvio: cada vez mais os evangélicos tem se aproximado, em suas prática, crenças e ritos, com as demais religiões oferecidas na modernidade. É de se espantar a forma como é enfatizada a magia nos cultos evangélicos de nossa era. São unções e milagres que brotam em púlpitos em inúmeros canais televisivos e em incontáveis igrejas pelo Brasil. É caneta ungida para assinatura de grandes contratos, são corredores de centenas de pastores orando pela vitória financeira, são inúmeros pedidos registrados em livros para serem queimados em morros, são correntes de sete cultos, etc., etc., etc. Graças a Deus congrego em uma igreja que tem buscado a iluminação através da Palavra, porém já quase fomos levados por doutrinas dessa leva, provavelmente, por movimentos que não passaram de modismos, mas que poderiam ter causado estragos irreversíveis se não fosse pela misericórdia do Senhor. Lembro-me de campanhas de unção de pedaços de tijolos que eram guardados em casa, na esperança que Deus pudesse realizar o sonho da casa própria, muitos cuidavam daquele pedaço de pedra como um amuleto. É triste imaginar que há inúmeras pessoas que têm depositado a confiança em objetos ou em ritos com o objetivo de terem seus sofrimentos amenizados, ou de usufruir um pouquinho do paraíso aqui na Terra.

Muitos defensores de tais práticas irão bradar que esses ritos são exercícios de fé, são utilizados para colocar a fé em ação, para provar tal fé. Para esses eu afirmo, a fé em Deus não se materializa dessa forma, em objetos ou em rituais de cunho mágico. Em
Hebreus 11: 1 diz “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”, fé é crer que independente da circunstância Ele está comigo, ter a convicção que mesmo não vendo, o amanhã a Ele pertence e na força Dele e n’Ele eu vou obter aquilo que Ele quer que eu obtenha. Basta ler Lucas 12: 22-28 o exemplo prático de como a fé se materializa no modo de vida do cristão.

É sabido o malefício do ensino que tem predominado no evangelicalismo moderno, predominantemente neopentecostal, de busca incessante por prosperidade e utilização de ritos com intuito de barganhar favores de Deus. São esses ensinos que tem aproximado às práticas evangélicas de práticas pagãs. Transforma o fiel em cliente, que paga, através de uma oferta, sacrifício ou de uma atividade cerimonial, com o intuito de alcançar sua graça. O amor pelo conforto, pelo bem estar e o apego ao materialismo tem impregnado a igreja. Esse mal assola o cristão, putrificando a alma e sufocando o espírito, subvertendo os ensinos do real evangelho para práticas egocêntricas. No cristianismo praticado hoje, influenciado pelo consumo, esquece-se que esse materialismo nada mais é do que amar as coisas que o mundo oferece, ação reprovada pela Palavra: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” 1 João 2:15.

Então quais os sinais que diferenciam o cristianismo autêntico desse aglomerado de religiosos que tem utilizado a Palavra de Deus de forma tão nefasta. A Bíblia nos apresenta numerosos ensinos que identificam o real seguidor de Cristo. Em Mateus 12:33 diz “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore”, em João 13:35 “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” ou ainda em Mateus 6:24 “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Porém, nesse texto, quero me ater a uma característica que todo o verdadeiro cristão deve possuir: o Inconformismo, a capacidade de não acatar de forma passiva as situações que são impostas por esse século.

Enquanto muitos se achegam ao evangelho em busca de milagres “cinematográficos”, temos ignorado o mais sublime milagre que é o cerne do cristianismo verdadeiro, a conversão. Não me refiro a mudanças de hábito, novas condutas, práticas que adquiro quando começo a participar de uma comunidade cristã, esse tipo de conversão existe em todas as religiões. Infelizmente essa conversão também é excessivamente praticada em nossas igrejas, o indivíduo se “converte”, reconhece Jesus Cristo como Senhor, no entanto, começa a viver um cristianismo com os mesmos parâmetros que possuía antes, todavia, com uma gama de dogmas que regulam o seu cotidiano, um ato de filiação a religião. A conversão a qual me refiro é a descrita em João 3:3 onde Cristo afirma “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Esse milagre gera uma nova geração, com um novo paradigma, esse milagre geram os inconformados.

Mas com o que devemos nos inconformar? A lógica do nosso sistema, materialista e consumista, tem contaminado o modo de se inconformar do cristão. Nos inconformamos com as dificuldades da vida, ficamos revoltados com nossas crises financeiras e nos indignamos quando não conquistamos nossos objetivos. E o incorformismo que se pratica é o incorformismo em não ter adquirido determinado bem. O fato de não ter o sonho realizado deixa o crente egocêntrico inconformado com sua situação.

O contrário também é verdadeiro, cristãos conformados, sossegados com tudo que têm adquirido. Isso é verificável nas redes sociais, o FaceBook é um desfile de exposições fúteis dos valores que têm impregnado o modo de pensar dos crentes. Foto dentro do “carrão” com a descrição “Indo pra casa depois de um dia de trabalho”, foto arrumando mala e a descrição “Levando só duas malas, mas uma é só sapatos”, ou então a descrição “presente de Deus” em uma foto do IPad novo. Enquanto isso, milhares de cristãos estão sendo presos e mortos em prol da mensagem de Cristo, e nós, em nossas vidas de privilegiados do Senhor, em busca da realização do nosso “sonho americano”. O que nos faz tão especiais assim a ponto de Deus nos abençoar com uma vida em Cristo brincando de ser do mundo. Claro que sou grato a Deus por estar em um país que goza de liberdade de credo e que condena qualquer tipo de perseguição, porém, isso não me permite ter uma vida de paz e tranquilidade, existem em nosso país inúmeros motivos para que nos inconformemos.

No texto de Romanos 12:2 vemos o ensino para que não nos conformemos com este século, este século faz referência a essa era em contraste com a era ou século que será consumado na vinda de Cristo, ou seja, mesmo morando nesse mundo devemos viver como herdeiros do mundo vindouro, estabelecendo à boa e agradável vontade de Deus. Essa conduta do cristão autêntico é o que atrai as pessoas ao evangelho, quando o mundo verifica que há em nós algo que nos diferencia, muito mais do que o jeito de se vestir, o linguajar ou ainda os ritos que praticamos, mas sim os valores espirituais que reproduzimos. E o próprio texto nos revela o modo de adquirir os valores de Cristo, através da transformação pela renovação de nossa mente, isso é santificação conforme 1 Coríntios 3:18 que diz “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”, o agente que faz essa transformação é o Espírito Santo.

Essa renovação de mente nos faz inconformados com os preceitos que regem o mundo, onde é normal que em um mesmo bairro possam existir pessoas que esbanjam riqueza a ponto de desperdiçar comida e outros que tem que se alimentar com restos recolhidos de lixões. O cristão renovado pelo Espírito é um inconformado com a injustiça que impera em nossa era. O cristão autêntico não pode se conformar com o fato de que pela injusta distribuição de renda em nosso país, crianças de 9 anos vão a escola no Sul e outras se prostituem no Norte para poder comer. O cristão verdadeiro não pode orar para que Deus abençoe suas finanças e esquecer de orar pelos miseráveis de nossas cidades.

Mas como fazer a diferença no mundo se não conseguimos ser diferentes em nossas igrejas?

Que Deus nos dê sabedoria para que sejamos a luz para o mundo e que para isso entendamos que precisamos fazer a diferença na comunidade que fazemos parte, “Vós sois a luz do mundo.” Mateus 5:14.

Que Deus nos abençoe em Sua Vontade.


#VoltemosAoVerdadeiroEvangelho


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