quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Estilo de vida cristã: Evangelho da prosperidade ou Evangelho da simplicidade?

Escrito por: Diego Cintrão
“Estilo de Vida” é uma expressão utilizada para se referir as formas com que a sociedade se divide no que tange o modo como se comportam. O “Estilo de Vida” de determinado grupo ou pessoa se expressa, normalmente, pelos hábitos, pelas rotinas, padrões de consumo, ou seja, a maneira como esse determinado grupo ou pessoa se comporta no seu dia-a-dia. “Estilo de Vida” é o modo como certo grupo ou pessoa se expressa, o modo particularizado de enxergar o mundo, de se comportar e fazer escolhas. Por exemplo, é fácil identificar um roqueiro pelo seu estilo de vida. Geralmente o roqueiro encara o rock como modo de viver, costuma transparecer um ar de rebeldia, em relação aos padrões sociais mais comuns, usam roupas pretas, muitos têm cabelos compridos e, os mais engajados, tentam viver conforme seus ídolos. Claro que isso é uma generalização sem nenhum aprofundamento, apenas para exemplificar o que vem a ser “Estilo de Vida”. 


Munidos desse entendimento sobre “Estilo de Vida” me questiono: De que forma o cristão tem apresentado seu estilo de vida? Afinal, qual é o estilo de vida do cristão? A intensão desse texto é refletir sobre o modo que o cristianismo moderno tem maculado o verdadeiro modo de viver o evangelho, baseando-se em vãs doutrinas que tem edificado impérios de fé blasfemadora e que tem contaminado igrejas que buscam o evangelho verdadeiro. Doutrinas que tem motivado comportamentos, conduzindo inúmeras pessoas á práticas que as distanciam da Verdade Bíblica, afastando-as do estilo de vida que Cristo quer que vivamos. 


A igreja evangélica já viveu, e vive, inúmeras práticas que definitivamente não possuem nenhum embasamento bíblico ou nenhum coerente. São “correntes”, “unções” de diversos nomes, G12, “toque de poder”; “cai-cai do espírito”, descarregos, e até manifestações, ditas do Espírito, que fazem o fiel se comportar, no momento do transe espiritual, como um animal, vide os shows extravagantes de mover espiritual do Sr. Beny Hinn e a tal “benção de Toronto” do Sr. John Arnott. 


Porém, toda a bizarrice que surge em determinados grupos evangélicos, apesar dos males e confusões que tem gerado, por muitas vezes não passam de movimentos que não resistem à força do tempo e morrem, como um vento de doutrina que passa, faz o estrago e se vai. No entanto, no meu entender, nenhuma doutrina tem feito tão mal a vida cristã como a teologia da prosperidade. Pois, além de fazer da mentira uma “verdade”, tem deixado por onde passa sequelas que dificultam o entendimento das verdades bíblicas, fazendo até mesmo igrejas idôneas e que buscam a verdade presas em enganos, valorizando coisas que Cristo abomina, a saber, o Materialismo. O materialismo é a grande sequela que a teologia da prosperidade implantou em grande parte da igreja moderna. 


Esse texto tem como objetivo refletir sobre o estilo de vida que Cristo quer que tenhamos. Quais são os hábitos que um cristão deve defender? Qual é a relação que devemos ter referente aos padrões de consumo, e como devemos lidar com o dinheiro? Afinal, Cristo espera um estilo de vida baseado no evangelho da prosperidade ou em um evangelho da simplicidade?



Teologia da Prosperidade: um evangelho com fins lucrativos.



Os adeptos a esse ensino creem que o cristão, além de ser justificado, por Cristo adquiriu o direito de gozar de saúde plena, prosperidade material e uma vida em abundância, livre de sofrimento. Ou seja, os remidos por Cristo são livres do pecado e dos sofrimentos que o pecado original proporcionou ao mundo. Além disso, segundo seus defensores, “o fato é que Deus não só prometeu como, no plano espiritual, já concedeu tais bênçãos a todos os portadores da fé sobrenatural. Agora cabe ao cristão tomar posse delas.” (citação de trecho do artigo “O reino de prosperidade da Igreja Universal” de Ricardo Mariano ). Em suma, a teologia da prosperidade é uma doutrina que garante o direito, àqueles que confessam Jesus Cristo como Senhor, de adquirir toda a plenitude de bênçãos, para que sejam desfrutadas aqui e agora. 

Os propagadores desse ensino trabalham com a convicção da retribuição, ou seja, segundo eles, o ato de ofertar e pagar religiosamente o dízimo faz com que Deus fique na obrigação de retribuir, pois Ele prometeu. É uma espécie de “receita de bolo”, você paga o dizimo e Deus fica obrigado a retribuir com o livramento de toda crise financeira (devorador e migrador), você oferta e Deus fica na obrigação de lhe retribuir com toda a sorte de bênçãos. Cito aqui um dos inúmeros absurdos propagados por Macedo em um de seus livros: “O ditado popular de que ‘promessa é divida’ se aplica também a Deus. Tudo aquilo que ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você” (Macedo,2000.p38). Que absurdo! Segundo essa falsa doutrina nos tornamos credores de Deus. 


As falácias da teologia da prosperidade já são bem conhecidas, principalmente pelos cristãos que buscam o entendimento das verdades bíblicas e se preocupam em estudar a Palavra de Deus como os bereianos. Porém, os males que ela desenvolveu dentro da igreja cristã em geral são impressionantes, criando uma lógica maldita da prática de um evangelho com fins lucrativos. Essa lógica, que tem sido praticada em inúmeras igrejas ditas comprometidas com a verdade, sugere que aquele convertido a Cristo além de receber a salvação e consequentemente a vida eterna com Deus, alcança também bênçãos sem medidas por parte do Pai celestial. Ou seja, Cristo é a garantia de saúde plena, pois Ele cura e provê milagres e Ele é a garantia de sucesso financeiro, pois nos provê prosperidade e riquezas. Essa lógica, produzida pelos ensinos da teologia da prosperidade, gera ministros abastados financeiramente e fiéis em busca do enriquecimento e introduz no entendimento da igreja uma ideia enganosa, de que crente abençoado é aquele que possui bens materiais e riqueza. O materialismo se impregnou na igreja do século XXI fazendo com que o cristão busque cada vez menos o Reino e cada vez mais conquista para seu bem estar e valorização do luxo, contrariando assim o ensino de Cristo quando afirma em Mateus 6:31-33


“Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”


Contrariando os ensinos do Mestre muitos cristãos têm dedicado seu tempo em busca das bênçãos de Deus, preocupando-se em qual carro comprar, como conseguir comprar aquela casa dos sonhos, como realizar o sonho das férias ideais, etc... Por isso é tão comum vermos igrejas com seus estacionamentos lotados de carros do ano e importados, crentes esbanjando luxuosidade em suas roupas e cristãos almejando morar em grandes casas numa vida de conforto e ostentação. É o materialismo maculando o modo de vida do cristianismo.


Neste ponto da análise do assunto vale lembrar uma grande dica que o Senhor Deus deixou para todo aquele que quisesse ser realmente abençoado. Tomamos por exemplo disso “ABRAÃO”, quando foi chamado por Deus para sair da terra de seus pais, nesse momento lhe foi feitas muitas promessas de bênçãos (Gn 12: 1-3), entretanto depois de lhe fazer grandes promessas Deus conclui dizendo “SÊ TU UMA BENÇÃO!” (Gn 12: 2). Aqui está o problema, pois as pessoas querem tão somente ser abençoadas, mas não entendem que para isso é necessário que primeiro elas sejam uma benção. A benção que virá será conseqüência de sua atitude de fidelidade, mesmo assim em nenhum momento Deus promete que “bênçãos” serão abundancia de riquezas, só vida feliz e sem nenhum sofrimento. O cristão precisa entender que ele está sujeito às mesmas tribulações que qualquer outra pessoa (Mt 5: 45 / Jo 16: 33). 


Definitivamente o meu Senhor Jesus Cristo não se sacrificou para que eu tivesse um carro caro, uma gorda conta bancária e uma casa luxuosa. Cristo não foi torturado, cuspido, açoitado, humilhado para que eu enriquecesse. Essa não é a relação que o Senhor espera que seus discípulos tenham com o dinheiro. Então qual a relação que o dinheiro tem com o estilo de vida cristã?



O dinheiro: O ídolo adorado pela humanidade.


A Palavra do Senhor é muito clara no que tange a relação que os servos de Cristo devem ter com o dinheiro, em Mateus 6:24 está escrito:


“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”


No grego a palavra “riqueza” aparece como mamõn, transliteração da palavra aramaica que significa “riqueza”, porém aqui Jesus está usando esse termo como nome pessoal, como caracterizando um ídolo pagão que em muitas traduções bíblicas aparece como Mamon. O culto pagão a essa “divindade” está sendo praticada dentro das igrejas cristãs e a adoração a esse ídolo é exercitada no momento que vivemos para adquirir dinheiro, guardar dinheiro, acumular bens materiais e se preocupar em receber “bênçãos” sem limites. As Santas Escrituras são esclarecedoras sobre o culto a Mamom:


“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6: 19-21)


Aqui o Senhor trata de armazenar para si mesmo valores além do necessário para viver, esse é o culto a Mamom. Quando armazenamos tesouros para nós mesmo eles acabam nos dominando, acabamos por deixar desamparados os necessitados e nosso foco se desvia de Deus. Jesus é enfático no texto sobre o jovem rico em Marcos 10: 23


Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!


Jesus afirma aqui o perigo das riquezas, mas contrariando o ensino de Cristo vemos igrejas buscando riquezas e afirmando que temos direito por sermos filhos de Deus. As riquezas são muito mais atributos de maldição do que bênçãos, pois produz uma auto-suficiência que domina o homem rico que o faz se afastar de Deus. Em 1 Timóteo 6:6-10 Paulo é categórico ao tratar os perigos da riqueza e a importância do contentamento em Deus, o texto diz:


“De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”


A relação do verdadeiro cristão com o dinheiro é colocá-lo no seu devido lugar, lugar de adoração ao Único Senhor. Devemos colocar o ídolo dos pagãos, Mamom, humilhado debaixo dos pés daqueles que professam o Nome que está sobre todo o nome. E como fazer isso? Usando o dinheiro para o serviço do reino, para propagar as Boas Novas de Cristo e amparar os necessitados, buscando ao invés de uma vida materialista, uma vida de simplicidade. Em Atos 20: 33-35 está escrito:


“De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário. Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” 


John Stott em seu livro “O discípulo radical” vai afirmar que “o materialismo é uma preocupação com coisas materiais, que podem abafar a nossa vida espiritual. No entanto, Jesus nos diz para não armazenarmos tesouros na terra e nos adverte contra avareza. O mesmo faz o apóstolo Paulo, nos impelindo a desenvolver um estilo de vida de simplicidade, generosidade e contentamento, extraindo tal padrão de sua própria experiência de ter aprendido a estar contente em quaisquer circunstâncias.”


“Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.” (Filipenses 4: 11)



O estilo de vida do cristão deve ser o Estilo de Vida de Cristo.


Não é o materialismo e a busca por bênçãos sem medida que devem ser o cerne do comportamento cristão. O nossos olhos devem estar fixados no autor e consumador da nossa fé, Jesus Cristo é o nosso parâmetro. Somos servos daquele que, mesmo sendo Deus, abriu mão de todo a Sua glória e majestade, para viver de modo humilde e simples. No prefácio da edição brasileira, escrita por Russel P. Shedd, do livro “O Estilo de Jesus” de Gayle D. Erwin, lê-se: “Mesmo sendo Deus, rei, criador do universo, [Jesus] escolheu viver de modo simples e tratar de modo indiferente o luxo e a fama terrenos para atender ás necessidades das pessoas carentes.” Paulo escreve em Filipenses 2: 5-7


“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,[...]”


Temos que erradicar no dia-a-dia do cristão a valorização de uma vida materialista embora seja muito atraente a mensagem de um Deus que tudo pode nos dar. Os pregadores evangélicos amam sermões motivacionais, que apresenta um Jesus pronto a abençoar. Claro que as pessoas querem um Jesus que dá um bom carro, que dá mansões, um Jesus que garante uma vida de abundância. Essas pregações têm enchido igrejas. Porém temos que entender que o Reino de Deus é um reino às avessas, a vida em Cristo é viver na contramão dos valores que o mundo alimenta. Se o mundo valoriza a riqueza valorizemos a simplicidade e vivamos para abençoar e não para sermos abençoados. Que possamos observar que a ostentação de bens materiais e a busca de bênçãos não é o estilo de vida que glorifica a Deus:


“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” Lucas 12: 15


Que possamos nos apegar aos verdadeiros mandamentos de Deus, amar a Ele sobre todas as coisas e amar ao próximo e que vivamos um estilo de vida que honre a Cristo de modo a termos um coração ligado a Ele. E que como cristãos verdadeiros paremos de buscar ansiosamente, como foco de vida, bênçãos dos céus em forma de bens materiais e sim direcionemos nossas energias em busca do reino de Deus e sua justiça:


“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens. Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.” (Romanos 14: 17-19)



Que o Senhor Seja louvado e Engrandecido.

Assista ao vídeo: Pequenas igrejas Grandes negócios

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